domingo, 20 de janeiro de 2013

Enigma - MCMXC a.d

Vi esse álbum pela primeira vez enquanto mexia nos discos da minha avó, em meio a diversas coisas antigas que haviam na casa dela (revistas, livros, fitas VHS). Quando eu olhei para a capa, achei um tanto obscura, o que logo me chamou a atenção... Eu tinha na época uns 15 anos e era fã de Heavy Metal, especialmente do Black Sabbath. Nessa idade se você gosta dessas coisas, acaba sendo influenciado, e por isso sentia certa atração por tudo que me parecesse obscuro. 
Quando perguntei a ela que disco era esse, ela me disse que era do meu tio e que "parece" que algumas pessoas que tinham o escutado haviam enlouquecido e até cometido suicídio. Alguns dias depois a história me foi confirmada por um vizinho que me disse que o disco foi lançado em 1978 e realmente, pessoas se mataram ouvindo.
Depois descobri que tudo era uma grande lenda e que, como eu desconfiava, meu vizinho era apenas um mentiroso, até porque o disco só foi lançado em 1990. Mas de qualquer modo quando eu o ouvi, me interessei pelo som, que achei bastante original, e comecei a escutá-lo frequentemente. Depois baixei os outros discos do Enigma, e comecei a pesquisar mais sobre o grupo.
O projeto foi criado e produzido pelo músico e compositor Michael Cretu, pouco tempo depois dele se casar com a cantora Sandra Cretu, em 1988. O músico já havia participado de outros projetos musicais na década de 1970 e 80, mas só conseguiu dar início a algo que vingasse em 1990. Neste ano ele começou a trabalhar em um novo estilo de New Age dance, e lançou o primeiro álbum do Enigma: MCMXC a.D. 

O instrumental do disco era baseado em batidas dançantes bastante sensuais, enquanto os vocais na maioria das vezes variavam entre a voz de Sandra e cantos gregorianos. Como obviamente o disco causaria polêmica, Cretu preferiu esconder seu nome sob o pseudônimo de M.C Curly, e a contracapa do álbum não tinha muita informação sobre os integrantes do grupo, deixando um ar de mistério sobre quem fazia parte do projeto... O que tornou o disco ainda mais atraente para mim, que procurava alguma coisa "obscura".
O álbum, apesar de não ser conhecido por todos, fez um certo sucesso na época e acabou influenciando outros grupos que se inspiram no canto gregoriano, como por exemplo o Era e outros grupos de New Age.
Antes da primeira música há uma introdução. "The Voice Of Enigma", que pode ser ouvida em todos os álbuns, mas sempre de uma forma diferente. Em MCMXC a.D, o instrumental da introdução já passa uma sensação de calma, enquanto a narração pede para o ouvinte relaxar, apagar a luz e deixar se guiar pelo ritmo.
Logo em seguida começa o primeiro movimento, "The Principles of Lust", que é dividido em três faixas. A primeira, "Sadeness", é a música do disco que conseguiu mais sucesso comercial. Isso pelo fato de misturar o canto gregoriano com uma batida moderna, sendo algo que ainda não havia sido feito na música. A letra questiona os hábitos do Marquês de Sade, tentando entender seu gosto pela dor e prazer. Ainda no primeiro movimento vem a faixa "Find Love", que dá a entender que o ouvinte deve seguir seus instintos de luxuria até encontrar o que procura. Para fechar essa parte do disco, como uma reprise, o refrão de Sadeness continua até terminar o movimento.
A faixa seguinte é "Callas Went Away", a menos interessante do álbum. No entanto, logo depois dela vem uma das melhores músicas: "Mea Culpa", que também conseguiu algum sucesso comercial e foi remixada por vários DJs da Europa.
A seguinte, "The Voice and The Snake", pode soar um tanto estranha, mesmo comparado ao restante do álbum, que mostra algo bastante diferente, quando não se está acostumado com esse tipo de som. A letra é como uma narração do Apocalipse segundo a Bíblia Sagrada. Em seguida "Knocking on Forbidden Doors", é outra que até chamaria a atenção na época, por ser algo novo, bastante original. Mas comparada às outras faixas do disco não tem tanto destaque. 
Encerrando o disco vem mais um movimento formado por três faixas. A primeira é "Way To Eternity", que é como uma introdução ao movimento onde os cantos clamam a Deus pedindo para que os livre da morte. A segunda parte, "Hallelujah", tem um instrumental muito agradável e a narração cita algumas frases que foram ditas na introdução do disco. "The Rivers of Belief", que encerra o movimento, é a única faixa onde Michael Cretu canta, e é também uma das melhores faixas. Em um momento da música o instrumental para completamente e uma voz masculina cita um trecho do Livro do Apocalipse, depois voltam os instrumentos, que de fato, nessa música são bastante interessantes, e Cretu volta a cantar terminando com a frase "vamos descansar em paz nos meus rios de crença". A música termina e voltam alguns sons que aparecem na introdução do disco, e assim encerra-se MCMXC a.D.
Michael Cretu

Pelo fato do álbum unir referências religiosas à uma grande dose de erotismo, obviamente surgiram algumas polêmicas fazendo com que fosse banido em diversos países. O vídeo clipe de Principles of Lust foi proibido de ser exibido na MTV, e outras emissoras de televisão se recusaram a exibir os vídeos do Enigma. Mas ainda assim o álbum conseguiu superar as expectativas em questão de popularidade, rendendo até discos de ouro e de platina.
Porém o Enigma provavelmente não vai agradar ouvidos acostumados com músicas "tradicionais". É um projeto para ser ouvido por quem gosta de experimentalismo e procura algo diferente. Com as faixas do disco é possível relaxar e até meditar, do mesmo modo que é possível dançar com a batida das músicas.



8 comentários:

  1. Você escreve muito bem, adorei seu texto! Eu adoro Enigma tbm, tenho a discografia aqui, e uma história interessante sobre esse álbum.

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    1. Obrigado pelo escreve bem. Eu tenho só esse em vinil. O resto ouvi baixado em MP3 mesmo, mas a discografia toda é muito boa.

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  2. Adorei a sua síntese sobre o Enigma, gosto muito das musicas que eles produzem e fico feliz por ver que há pessoas que compartilham dessa mesma opinião.

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    1. Obrigado, cara! Eu também fico feliz quando vejo que outras pessoas curtem, mesmo sendo pra poucos ouvidos

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  3. Texto profundo! Definiu muito bem o Enigma, cheguei a rir com os comentários sobre a lenda das pessoas que se matavam ouvindo Enigma. Eu vivo mais ainda quando escuto Enigma, as músicas são diferentes, estranhas, não é pra qualquer ouvido. Apreciar o Enigma não é pra qualquer um, tem que ter ouvidos exigentes por músicas de qualidade, e isso o Enigma tem de sobra. Definir a melhor música é difícil pois a maioria eu gosto, mas se eu tivesse que escolher uma, apenas uma, escolheria "Silence Must Be Heard", é simplesmente linda. E se eu tivesse que escolher um álbum, seria o "The Screen Behind The Mirror", mas gosto de todos. Abraços!

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